3 de julho de 2009

Portugal é um país lento

O Marco Horácio apresenta com a Diana Chaves um programa que, quem sabe o que é o Youtube, já viu há muito tempo na versão japonesa. Não é por o programa não ser uma novidade absoluta que não presta, mas pelo simples facto de não ter ritmo; os apresentadores são lentos na condução do programa, andam a engonhar com conversa de chacha e sem graça. Parece-me que a produção não tem dinheiro para moldes de esferovite suficientes para dar mais velocidade ao programa naquilo que realmente interessa.

Estas versões do Youtube são obviamente editadas para condensar a acção, mas nota-se que, aqui, quem faz realmente o espectáculo são os concorrentes:




Mas este problema português tem raizes. Lembram-se do famoso 1-2-3 ? Com aquela conversa da treta no final do programa "Manda embora o objecto, traz o objecto, o que diz o objecto, leio, não leio, qual é a pista, o que é que decidem, vejam lá, têm a certeza, blah blah" Se na altura funcionava, muito se devia também ao apresentador. Mas depois parece que o ritmo se manteve inalterado na consciência colectiva televisiva enquanto o resto do mundo mudava.

Os programas portugueses não têm ritmo. Foi por isso que o Herman SIC falhou. Se durante uns anos a coisa ainda funcionou, foi graças à tolerância do público, muitos ainda sem tv por cabo, sem acesso ao que se faz lá fora, e também à figura do Herman, que se foi desvanecendo, por entre faltas de inspiração que afectaram o ritmo do programa (que até então ainda o ia safando da duração excessiva) e escândalos de natureza sexual.

Foi também por falta de ritmo que aquele talk-show do Malato não continuou. O apresentador não é dos melhores, mas o essencial foi a duração do programa - enorme, um cenário também ele enorme, tudo no mesmo sentido: falta de ritmo, muito silêncio para preencher e pouco conteúdo. Confrangedor.

Na NBC, o falecido Johnny Carson reduziu a duração do Tonight Show, primeiro de 105 para 90 minutos em 1967 e depois de 90 para 60 minutos em 1980! O cenário do Tonight Show sempre foi pequeno, com proximidade do público, com muito ritmo e muita inteligência.

Porque será que ninguém se lembra de fazer o mesmo ? O cenário, duração e ritmo, pelo menos esses, estarão ao alcance...

O Herman podia ainda hoje estar no ar se o programa fosse para o ar várias vezes na semana, num formato mais conciso. O mesmo com o Show do Malato.

Os telejornais são outra chaga. Em vez de um telejornal conciso, de meia hora, temos de aturar 1h30 de "coisas". Ninguém devia ter tempo para gastar 1h30 a ver e ouvir um telejornal. Os nossos telejornais estão desfasados do ritmo da realidade actual. E ainda por cima é 1h30 de generalidades. É muito raro entrar-se pelos pormenores dos assuntos para se ficar a perceber de facto algo de controverso. Esmiuçar é perigoso porque o telespectador está cansado e pode decidir mudar de canal, além do que é preciso trabalho para esmiuçar e acarreta mais responsabilidades. É como os horóscopos da Maya: dizem-se umas coisas genéricas e assim ninguém fica desiludido.

Em suma, quer nos programas de entertenimento, quer nos telejornais, Portugal tem a técnica do comprimido: faça-se uma coisa enorme, com tudo lá dentro para a malta engolir.

2 comentários:

Guida Palhota disse...

"Portugal é um país lento" porque está repleto de gente acomodada, preguiçosa, medrosa e sem personalidade própria.
Portugal é um conjunto de personagens tipo. São poucos os seres individuais. Facilmente se colocariam em fila, notando-se logo a 'linha lisa' do resultado do esforço. "Todos" querem agradar a gregos e a troianos, acagaçados pela possibilidade de alguém se sentir ferido, excluído, ou então pela de os outros não gostarem de um ser ou de um trabalho diferente, original, inédito (e de qualidade).
Em Portugal não há altos nem baixos. Quando muito, haverá uns engasganços. De resto, o que vai havendo é mais do mesmo e anda-se sempre a reboque.
Pensar, reclamar com fundamento, criar, inovar, pôr em prática dando a cara... não é com a maioria dos portugueses.
Muitos gostam de protestar, mas não o sabem fazer. Há quem proteste só porque sim, tipo "Maria vai com as outras", claramente sem saber o que está a fazer, e/ou claramente sem saber fazer melhor.
Se estivesse instituída a obrigação de pensar, de analisar e de agir em conformidade... talvez o país soubesse levantar-se fundamentadamente contra as práticas televisivas de que falas e contra tantas outras preguiças e tantos outros modos de fazer de maneira a garantir o lançamento de poeira para os olhos do maior número possível de pessoas.
Dizes que "Os programas portugueses não têm ritmo." Eles 'ritmo' têm - o ritmo arrastado dos portugueses, o ritmo do 'deixa andar', do "só mais um bocadinho", esticados no sofá ou na cama, de manhã, o ritmo do 'está bom assim, não vale a pena ralarmo-nos mais; ninguém nota...'.
Enfim. Acho que agora não me calava, mas depois confirmava-se mesmo, cá para o meu lado, tudo aquilo que escrevi... e não quero!

beijo

Aníbal Meireles disse...

Não é à toa que até os estrangeiros até reparam que nós por cá temos uma palavra que eles não têm (e parece que até gostavam de ter - deve ser um fetiche qualquer): não é fado.

É "desenrascanço"

Beijo