Parece que não e, à semelhança do que disse há pouco o Ricardo Araújo Pereira ao apresentar o convidado Bernardino Soares, pode já não ter cassete, mas tem MiniDV.
A entrevista que a nova deputada do PCP deu ao Correio da Manhã é sintomática, e o jornalista bem que tentou esmiuçar, mas dali não vinha nada de novo. Eis o excerto:
(entrevista completa aqui)
"
(...)
- Concorda com o modelo que está a ser seguido na China pelo PCC?
- Pessoalmente, não tenho que concordar nem discordar, não sou chinesa. Concordo com as linhas de desenvolvimento económico e social que o PCP traça para o nosso país. Nós não nos imiscuímos na vida interna dos outros partidos.
- Mas se falarmos de atropelos aos direitos humanos, e a China tem sido condenada, coloca-se essa não ingerência na vida dos outros partidos?
- Não sei que questão concreta dos direitos humanos...
- O facto de haver presos políticos.
- Não conheço essa realidade de uma forma que me permita afirmar alguma coisa.
- Mas isto é algo que costuma ser notícia nos jornais.
- De facto, não conheço a fundo essa situação de modo a dar uma opinião séria e fundamentada.
- No curso de Ciência Política e Relações Internacionais, não discutiu estas questões?
- Não, não abordámos isto.
- Como olha para os erros do passado cometidos por alguns partidos comunistas do Leste europeu?
- O PCP, depois do fim da URSS, fez um congresso extraordinário para analisar essa questão. Apesar dos erros cometidos, não se pode abafar os avanços económicos, sociais, culturais, políticos, que existiram na URSS.
- Houve experiências traumáticas...
- A avaliação que fazemos é que os erros que foram cometidos não podem apagar a grandeza do que foi feito de bom.
- Como encara os campos de trabalhos forçados, denominados gulags, nos quais morreram milhares de pessoas?
- Não sou capaz de lhe responder porque, em concreto, nunca estudei nem li nada sobre isso.
- Mas foi bem documentado...
- Por isso mesmo, admito que possa ter acontecido essa experiência.
- Mas não sentiu curiosidade em descobrir mais?
- Sim, mas sinto necessidade de saber mais sobre tanta outra coisa...
(...)"
Até o Bernardino Soares se demarcou mais. Aqui parece ser um caso de confrangedora ignorância com tendenciosismo à mistura. Então mandam uma caloira desta calibre para o Parlamento ? Nesse caso quer-me parecer que é capaz de ser única e exclusivamente para fazer concorrência às "Barbies" do Bloco.
Porque é que o PCP não condena abertamente os outros partidos comunistas ? Não é o nosso PCP uma versão apesar de tudo já meio aburguesada, ou pelo menos diluída dos outros ? Não será o PCP uma espécie rara e talvez até única que nada tem que ver com os restantes ? Não sabemos ao certo, nem vamos saber porque nunca chegarão a governo. Mas não lhes fazia nada mal demarcarem-se com vêemencia dos restantes, ainda que o sentimento de pertença a uma espécie saísse prejudicado.
3 comentários:
O problema, para si, é que a Rita Rato foi genuína. Sugiro-lhe uma ideia: telefone para o parlamento e peça à Rita que da próxima aproveite a sua inteligência e fale pela sua boca. Assim acaba-se com a diferença.
A Rita está no parlamento pelo que fez em Portugal, lutando, em condições difíceis, pelas ideias em que acredita. Mas o senhor parece exigir que para se ir para a A.R. deve ser exigido saber da política internacional o que os media do sistema querem que se saiba.
E é injusto falar em nova aquisição e diminuir uma pessoa que manifestamente não conhece.
Caro Pedro Namora, seja bem-vindo a este blog!
Se por um lado não duvido que a Rita Rato tenha sido genuína, por outro não percebo o que quis dizer com a sugestão de ideia. Está a falar da inteligência e da boca de quem ?
Eu não me arroguei mais inteligente do que a Rita Rato, nem mais sabedor das questões que lhe foram colocadas pelo jornalista, nem tampouco conheço a deputada, tal como a esmagadora maioria da opinião pública, e como tal frisei que a análise era preliminar, susceptível de mudar com o passar do tempo e de mais e melhores informações acerca da mesma.
Portanto, se me está a chamar de arrogante, sugiro-lhe que leia outra vez o texto. O que eu disse e esclareço melhor aqui e agora é o seguinte: não é ignorando os factos que se consegue evoluir.
Ignorar é uma forma de não ter de enfrentar determinado problema, de perante ele formular uma opinião, de se relacionar com essa realidade, mal ou bem.
O que eu li foi dito pela Rita Rato, é um facto, e na minha opinião as respostas dela não abonam em favor dela. Se ela um dia responder de forma diferente às mesmas questões, reservo-me o direito de mudar também a minha opinião em relação à Rita Rato, naquele momento. Por ora, falo do aqui e agora. E aqui e agora o que ela disse está escrito.
O que eu critico em relação à Rita Rato não é o que ela fez em Portugal, "lutando, em condições difíceis, pelas ideias em que acredita", que não conheço, mas que tomo como boas como ponto de partida; o que eu critico é que uma deputada do Partido Comunista ignore a forma como outros partidos, em outros países, bem conhecidos aliás, que partilham da mesma ideologia base, interpretam e aplicam os ideais comunistas.
Isto é tanto mais criticável justamente por ser um assunto da sua área e pelas responsabilidades políticas que a deputada assume a partir do momento em que se senta na Assembleia da República; a Rita Rato é a partir de agora uma representante, e é-lhe exigido mais do que aos restantes cidadãos que intervêm na sociedade em diferentes áreas e que delegaram parte da sua voz interventiva em alguém que tem mais capacidade de fazer chegar a mensagem a um número alargado e onde interessa decidir determinada matéria.
Se a entrevista foi conduzida por um jornalista, é claro que há sempre essa desculpa dos media do sistema em que pegar; outra coisa é se argumentar que o que o jornalista lhe perguntou não tem qualquer relevância ou é manifestamente um chorrilho de disparates sem qualquer fundamento de facto.
Eu entendo que as perguntas são relevantes para quem exerce agora um mandato de responsabilidade, mesmo que tivessem sido feitas por um acérrimo anti-comunista. As perguntas aqui valem por si.
Quanto a ser injusto por falar em nova aquisição, esclareço os interessados e leitores do blog: sei que a Rita Rato já partilha dos ideais comunistas e ajuda o partido e a divulgação das suas ideias há alguns anos; isso vem aliás dito na entrevista completa que mencionei, tendo incluído um link para a mesma. O título do post pode estar incorrecto desse ponto de vista, mas presumo que quem leia o post e a entrevista perceba que a aquisição é como deputada e não como militante.
Não sei em que medida é que entende que falar em aquisição é diminuir uma pessoa; pode haver boas e más aquisições, quer na política quer em qualquer outro ramo da vida.
Se das minhas palavras, no seu todo, se pode concluir que entendo que é uma má aquisição ? Pode sim senhor, até agora pelo menos, é uma má aquisição, sobretudo para o país.
Olha, Aníbal, eu pegaria, por exemplo, numa frase desta senhora (ou desta Barbie?), pelos vistos, pouco informada e pouco ralada com a sua falta de informação (há gente assim, que gosta de manifestar a sua ignorância para atrair atenções - onde é que eu já li isto?!) e trocar-lhe-ia o rumo semântico. Assim:
Em vez de
"A avaliação que fazemos é que os erros que foram cometidos não podem apagar a grandeza do que foi feito de bom.",
deveria ler-se
'A avaliação que devemos fazer é a de que a grandeza do que foi feito de bom não consegue apagar a enormidade dos erros que foram cometidos!'
Como é que vai parar à assembleia uma pessoa manifestamente desinformada sobre práticas de quem, supostamente, faz assentar o seu trabalho em prol de um futuro melhor em postulados idênticos? Ou alguém que, como ela diz, sente "necessidade de saber mais sobre tanta coisa...".
Que "coisas" serão essas: a importância do papel higiénico na revolução cultural chinesa; técnicas de surf; o preço a que pagam a água as famílias numerosas deste país; o melhor método depilatório; o que está na berra em matéria de vernizes para unhas; ou a taxa real do desemprego no nosso país e quem é que, afinal, anda a sentir a crise?!...
Ai, as Barbies continuam mesmo a atrair só por isso mesmo (por serem barbies!).
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