20 de dezembro de 2009

Um mundo de embrulhos - 2

Como se não bastasse nascermos embrulhados no ventre das nossas mães, uma inevitabilidade natural (até agora, pelo menos), crescemos e vivemos embrulhados em casas, somos educados e posteriormente trabalhamos dentro de espaços fechados, deslocamo-nos embrulhados em automóveis, metropolitanos, comboios, eléctricos, autocarros, e como se não bastasse, quando a terra nos comer, há-de ser embrulhados num caixão ou então ficaremos para a eternidade embrulhadinhos num pote de cinzas na sala de estar de um dos nossos descendentes (até ao dia em que o gato ou um convidado lhe der um piparote).

E depois há por aí umas almas santas que dizem que somos materialistas e que mais-não-sei-o-quê! Pois somos, todos!

Já viram quantos objectos os outros animais chamam a si para se protegerem e para viverem ?

A nossa natureza é esta e não vale a pena negar: é um facto insofismável que a nossa evolução nos trouxe para um patamar em que precisamos de objectos, e em especial de objectos para camuflar a nossa essência, para lhe dar uma aparência mais agradável, para parecer que temos mais poder, para amplificar a nossa presença.

Ser materialista não tem nada de mais nem de menos; é uma característica como outra qualquer; o que nos pode distinguir pela positiva dos restantes animais que vive muito bem sem esta parafernália de tarecos é que saibamos distinguir entre o que nos faz enquanto seres e os objectos que moldámos a partir da natureza e que cirandam à nossa volta para nos ajudar a ser mais felizes - essencialmente felizes e não felizes para a fotografia. Que sirvam para acrescer à nossa felicidade e nunca para a substituir.

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