24 de fevereiro de 2010

Notícia é notícia, crónica é crónica

Não sei se há rancores ou outra coisa qualquer no meio, mas o que é certo é que a crónica de Mário Crespo sobre a conversa em que o PM o terá apelidado de "problema a ser resolvido" contém em si uma notícia.

E essa notícia não foi sujeita a contraditório. Mário Crepso, como jornalista, tem obrigação de saber isso.

Se toda a gente está satisfeita por saber que de facto a conversa existiu, porque já foi confirmada por duas pessoas - uma do Governo, Pedro Silva Pereira, e a outra da Sic, Nuno Santos ? Claro.

Porquê ? Porque nos ajuda a perceber melhor que é o nosso PM nos bastidores.

Se todos acham estranho que o ministro tenha dito que o que vem dito na crónica é uma história mal contada e Nuno Santos tenha dito que não estava na mesma mesa com o PM, mas que a conversa não foi bem como Mário Crespo conta, sendo que nenhum destes dois - ministro e Nuno Santos, tenha dito afinal o que se passou e se Mário Crespo é afinal um problema a ser resolvido ou não ? Claro que todos acham isso estranho.

E o que Nuno Santos disse é no mínimo intrigante: então ele diz não estar na mesma mesa que o PM e ainda assim ouviu a conversa para poder dizer que não foi bem como se diz ? Ou é uma verdade formal (em vez de uma mesa, serem duas encostadas uma à outra, ou seja, o mesmo almoço), o que me parece estúpido, porque deve haver mais testemunhas, ou então de facto ele estava noutra mesa, ou seja, não estava a almoçar com o PM (mas nesse caso porque é que não o disse categoricamente ? Estranho.), o que me parece uma grande coincidência - mesmo lugar, mesmo dia, mas ainda assim é possível, o que quer dizer que a conversa do PM foi tida num tom bastante alto para que alguém noutra mesa, como Nuno Santos, pudesse ter ouvido ao pormenor - e desdizer Mário Crespo.

Se toda a gente acha que isto necessitava de ser melhor explicado ? Claro. Se pela "gaguez" inusitada de Pedro Silva Pereira, que não negou a conversa nem o assunto (porque deve haver mais testemunhas) alguém tem dúvidas de que o PM insultou Mário Crespo ? Não me parece que haja dúvidas. Se alguém quer admitir isso em público ? Pois, resposta óbvia. Se ele disse que o homem era um problema ? Talvez. Um problema a ser resolvido ? Parece que não, a fiar nas palavras do ministro e de Nuno Santos. Mas também nunca se vai saber. E fiar nas palavras de quem está a esconder algo, mesmo que seja uma conversa 'privada em voz alta', é no mínimo arriscado.

Posto isto, em princípio foi isto que se passou, sem que haja confirmação oficial.

Agora, separando o trigo do joio, a crónica de Mário Crespo não foi publicada no jornal onde habitualmente era publicada, e muito bem, digo eu. Notícia é notícia, crónica é crónica.

Notícia relacionada de hoje do Diário Económico: http://economico.sapo.pt/noticias/director-do-jn-cronica-de-crespo-era-coscuvilhice_82281.html

2 comentários:

Anónimo disse...

E a verdade é que Leite Pereira censurou a crónica e a notícia. Eu acho o Mário Crespo um tipo de coragem e isso faz falta contra estes opressores. Mas cabou a crónica do Crespo. Solucionaram-no de facto.

Aníbal Meireles disse...

Olá anónimo, seja bem-vindo.

A verdade é que o Conselho de Redacção do JN concordou inteiramente com a decisão de Leite Pereira em não publicar.

Eu já cheguei a ler no site Sapo Fama (http://fama.sapo.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=5460&Itemid=31), a propósito do lançamento do livro de crónicas de Mário Crespo, Nuno Rogeiro dizer o seguinte (slide 29):

"Só há duas razões para não se publicar o texto de um cronista avalizado pela direcção de um jornal: o artigo ultrapassar o número de linhas acordado ou o cronista cometer sucessivos erros gramaticais. Segundo julgo saber, nenhuma destas situaçãoes se verificou na crónica do Mário"

Ora, gostando eu de ouvir toda a sapiência que o Nuno Rogeiro demonstra ter sobre inúmeros conflitos políticos e militares por esse mundo fora, tenho também a dizer que ele se esqueceu, na sua peremptoriedade, de referir que existem mais duas razões para não publicar: se a crónica incitar ao cometimento de algum crime, ou se a crónica não for apenas uma crónica, mas também uma notícia.

Que eu sabia, Mário Crespo, sendo jornalista, foi contratado pelo JN como cronista e não como jornalista, para escrever crónicas e não para escrever notícias, e muito menos para fazer uma misturada a seu bel prazer.

Não está em causa a coragem de Mário Crespo, mas irrita-me que se misture tudo no mesmo saco e se diga que o homem tem razão quando não tem. A conversa pode ter existido, e tudo o que Mário Crespo escreveu até pode ser verdade, mas issno não lhe dá o direito de exacerbar o seu espaço de cronista para divugar notícias.
Se ele quisesse, tinha publicado a crónica num blog. E aí quem é que o iria oprimir ?

Se a ideia era fazer passar a mensagem ao maior número de pessoas possível, que meio melhor que a internet ? Não é o que Pacheco Pereira, Ana Gomes, Vital Moreira, e tantos outros políticos e analistas fazem ? E não deixam de ser noticiados, por vezes até na televisão, quando o fazem ?

Então onde é que está a censura ? Se Mário Crespo queria divulgar a notícia que o fizesse pelos seus meios e não tentasse fazer entrar no mesmo barco quem não tem que o fazer, obrigando o JN a publicar uma "coisa" que não respeita o cósigo de conduta dos jornalistas, por mais verdadeira que seja.

O que eu escrevi não é uma crítica ao conteúdo do texto, a´te porque ninguém sabe o que se passou; também não é uma crítica à legitimidade de Mário Crespo de se fazer ouvir, colocando na praça pública uma aviso que fará, em princípi,o parar as maquinações dos que contra ele maquinam; o que eu critico é a forma como o tentou fazer.

Foi atabalhoado, no lugar errado. E ele devia saber isso. Há outros locais para o fazer, com a mesma projecção.