13 de novembro de 2008

Hã? O quê? Não percebi! Não se importa de repetir?

O Dr. Jorge Sampaio tem duas grandes virtudes: sabe falar razoavelmente bem inglês e sabe ser tão politicamente correcto, mas tão tão tão tão tão politicamente correcto que acaba por ser tão, mas tão tão tão tão abstracto, que acaba por não dizer nada.

Aqui vai um pequeno exemplo desta última qualidade, retirado de uma mini-entrevista de três perguntas à revista Visão da semana passada, a propósito do descontentamento dos militares:

Pergunta: "Está preocupado com os sinais de descontentamento ?"

Resposta (ed: bom eu hesito em chamar a isto de resposta... Aníbal): "Deve estar-se sempre atento aos sinais provenientes da «sociedade civil». Semelhante atitude aplica-se, com mais razão ainda, aos corpos do Estado. No caso das FA, não tenho dúvidas de que há um redimensionamento a fazer e reformas a efectuar. E, nesta matéria, deixe-me frisar dois pontos. O primeiro diz respeito aos conceitos estratégicos de defesa nacional, há muito discutidos e aprovados, mas que parecem ser tantas vezes ignorados, do que resulta amiúde um falso debate sobre questões que acabam por não ter objecto. Com isto, não estou a desvalorizar a necessária revisão a que tais conceitos estão sujeitos, à luz da evolução internacional. O segundo prende-se com a necessidade de compatibilizar os objectivos com os meios disponíveis, o que exige uma visão realista das diferentes opções políticas e um rigoroso exercício de avaliação da adequação das necessidades às possibilidades. É neste quadro que se inscreve o debate sobre a dimensão das FA, a questão dos equipamentos, o problema das carreiras, etc."

A minha tradução para português:

Devemos estar particularmente atentos ao descontentamento das FA, devido à sua importância, e porque há reformas a fazer. E o problema é que, às vezes, está-se a discutir esta questão sem ter presente o que entendemos por defesa nacional, e assim não vamos a lado nenhum. Isto sem prejuízo de haver um reajustamento do que entendemos por defesa nacional face à natural evolução das coisas. Por fim, há que atribuir às FA uma missão que se coadune com a dimensão e possibilidades que elas têm e não mais do que isso. Caso contrário, vêm todos os problemas ao de cima: falta de equipamento, problemas com as carreiras, etc.

Comparação dos dois textos: o do Dr. Jorge Sampaio ocupa 16 linhas, o meu 10. É uma diferença de 60%. Já viram os custos de falar especialmente bem vs. falar moderadamente bem ? E dizer a mesma coisa. Ou seja, muito pouco.

Dou portanto os meus parabéns às Nações Unidas por terem nomeado o Dr. Jorge Sampaio para o cargo de Enviado Especial para a Luta contra a Tuberculose. Afinal de contas, que melhor para combater a tuberculose do que um político nato? A tuberculose ouve o discurso de Sampaio e pira-se logo dali para fora. É que não consta que as doenças parem para pensar.

É por haver políticos como este que existem os Gato Fedorento (mas não só, mas não só. felizmente).

3 comentários:

Pedro disse...

Confesso que, eu que sou dos que têm lugar no futuro de tão imperfeito que sou, numa primeira leitura do que o Dr. Jorge Sampaio disse não consegui perceber nada. Valha-me a tradução para português. E com tudo isto, ainda consegui poupar mais. Será que quer isto dizer que falo bem?? Nem especialmente nem moderadamente, apenasmente bem.

Lady Godiva disse...

Olha lá, Aníbal,alguém te disse que queremos (nós ou a tuberculose) políticos natos? Tu não achas que ficávamos todos(nós e a tuberculose!) bem melhor contigo?! É que, no meu modesto entendimento, dez boas linhas serão sempre preferíveis a dezasseis linhas de encher...

Um beijo.

Aníbal Meireles disse...

Apenasmente bem... parece-me BEM :D

Pedro: eu também não percebi nada da primeira vez que li a entrevista. E fiquei surpreendido. É que eu julgava que o homem estava melhor desde que tinha deixado de ser PR, pelo menos a julgar pelas poucas vezes que ultimamente o vi na Sic Notícias a falar abertamente sobre o que pensava sobre alguns assuntos. Mas pelos vistos ainda não se livrou desta particularidade-retórica-enche-chouriços-e-farinheiras-e-alheiras-e-etc-e-não-diz-nada.

Lady: Obrigado :D Olha, eu já me candidatei a teu assessor, estás também tu a candidatar-te a minha assessora ? Três palavras: vamos a isso! Ficamos assessores um do outro hehehe. Afinal duas cabeças pensam melhor do que uma. E enchem menos chouriços verbais! E sendo assessores um do outro não há cá tachos hierárquicos!

Abaixo o vácuo politicamente correcto! Viva a escrita e a oralidade sentida!

Parece-te um bom lema?

Um beijo para ti e um abraço para o Pedro