Ao longo dos últimos meses cheguei a várias conclusões quanto ao que quero fazer na vida.
1. A primeira resume-se com grande facilidade: tirei o curso certo para não perceber nada sobre o mundo e sobre a realidade específica do mundo para a qual o curso me prepararia.
Não me pareceu bem repetir a ideia do "tirei o curso errado", porque é fácil olhar para trás e tirar conclusões precipitadas e radicais, a não ser que tivesse sido obrigado a tirar o curso, que não fui, ou que conscientemente tivesse tido essa ideia 'nos durantes' e não tivesse feito nada, o que também não aconteceu com clareza e distinção.
2. A outra conclusão também é simples: ao fim de três anos de vida "no terreno", senti que não gosto do meu metier.
Lido com chico-espertismo elevado ao quadrado, quer com as pessoas que comigo vêm ter, quer com os colegas de profissão. E no que toca a colegas, constatei que isto é com grande probabilidade geral; estou a generalizar com algum fundamento. E posso aprofundar, mas não aqui. E por ter feito parte disto, pus a mão na consciência e pensei: isto já é uma profissão difícil, desnecessariamente complexa, com muitas "interferências exteriores", muitos enganos, muitas pré-concepções, muito formalismo bacoco, ainda por cima estou a enveredar pela esperteza saloia, com riscos de enveredar pelo eticamente censurável ? Além da falta de respeito que existe para com a classe. Em grande parte merecida, diria eu. As minhas desculpas ao colegas honestos, e acima de tudo, rectos. São poucos.
Mas isto é o reflexo do país, que deixou muitas das suas reputadas instituições cair no lodo. É uma questão de mentalidade, de falta de educação, de valores, e não tanto de cargo ou de profissão.
3. A terceira conclusão é a de que tive a clara noção de qual a profissão que quero seguir.
Se não tivesse sido isso, provavelmente andaria a arrastar-me durante mais uns meses, quiça anos e a ser manifestamente incompetente e infeliz naquilo que faço. Reconheço-o, não consigo ser bom naquilo de que não gosto, se não continuar mais a enganar-me, o que manifestamente já não consigo. Foi o que fiz durante o curso, pelo menos no sentido de achar que iria seguir a carreira previsível, quiça por não vislumbrar alternativa de que gostasse mais.
O problema agora é mudar de carreira. Dir-se-ia, "quem não arrisca não petisca", mas em tempos de crise pode parecer uma aberração deitar tudo a perder no ramo onde estou.
Mas estou saturado. Estou pessoalmente apagado. Nunca me consegui integrar neste mundo, de me conformar à norma e percebi exactamente porquê. Nunca fui feliz, raros foram os momentos de algum entusiasmo e de motivação. Não dá. Nem mais um dia. Estou com sede de viver, de fazer as coisas de que sei agora gostar, de me soltar das amarras a que me agrilhoei nos últimos anos.
Ainda estou no início da carreira, de qualquer das formas; não é para isso que serve o período inicial ? Para saber se gostamos ? Na hora da verdade há que fazer o balanço e saber se queremos dar o passo seguinte.
Não obstante, isto vai ser difícil...
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7 comentários:
Estou contigo, Aníbal.
Convido-te para me contares os teus planos, ao vivo. Queres?
Beijo
Quero!
Que bom!
Então vamos a isso!
Oi Anibal! Por um lado apetece-me dizer "que bomba", por outro o meu instinto como que previu a coisa... aliás, eu ainda nao me libertei da minha própria (e mesma) crise identitária. Estou no entanto curiosa (pois, o meu defeito) de saber que vocação descobriste agora... tenho um ou outro palpite, mas fico à espera de um longo email ou conversa (tlm, skype, msn...) para meter a conversa em dia.
Beijinhos e boa sorte para o novo começo!!!
Marie
Aníbal
Eu não sei qual é a tua profissão, pelo menos nao me lembro de te teres referido alguma vez a ela aqui na blogosfera, no entanto sou completamente contra o conformismo e a passividade que a maioria das pessoas demonstram em relação ao desenrolar das suas vidas. Assusta-me a apatia que vai sugando lentamente, às vezes imperceptivelmente a essência de cada um...
Admiro atitudes como a tua, seja lá o que for que queiras mudar, muda! Sou pelas mudanças radicalmente desejadas
1 beijo
Mudar, sim!
Fazer planos, sim!
Andar em "carneirada", Não!
Este post é uma lição!!!
Para todos: obrigado pela força. Neste momento de decisão senti-me sozinho; é bom ouvir tantas vozes a apoiar-me. Um bem-haja a todos! É um conforto que me dão e que vale muito, muito mesmo.
Marie, a ver se conversamos esta semana. Entrarei em contacto para falarmos dos meus e dos teus assuntos ;) Beijos
Rute: não cheguei a dizer qual era a minha profissão por vários motivos. Um deles talvez até seja mesmo este: o de não me sentir bem nela.
Clarice: É isso mesmo! E obrigado pela força!
Beijos
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