3 de maio de 2009

Da vida útil de um blog e da sua utilidade

Estive agora a ler uns quantos blogs portugueses sobre política e afins. E ainda outros blogs por afinidade. Muitos deles duraram dois anos, ano e meio. Depois fecharam a casa e abriram noutro sítio. Outros entretanto deixaram a casa vazia, com o passado presente e nada mais.

Parece claramente um daqueles casos de paixão - o tempo de duração é o mesmo, o fulgor também. Mas com participação dos leitores a diminuir, o que há a fazer é arrumar os caixotes, mudar a tralha para um armazém e começar a desenhar a nova casa, mais apelativa - num gesto de reinvenção ávida de mostrar, de discutir "fulano disse no blog X que eu insultei sicrano, por isso venho agora aqui postar postas de pescada em como isso não é verdade". E assim sucessivamente.

Alguns parecem conversas de café plasmadas para todo o sempre (até ver) em tinta digital; outros um relambório fastidioso de expressões que usamos duas vezes na vida, e que visam apenas mostar o quão eloquente o trasmitente da mensagem é, o quão inteligente, e com que à-vontade, meu deus!, as emprega. Depois há a política, o confronto, enfim. Não tenho grande paciência. Em bom rigor não tenho tempo. Paciência é um conceito dependente do tempo que temos disponível. Interesse já é outra coisa. Aí talvez a coisa fosse interessante discutir. Mas era preciso que tivesse paciência (leia-se "tempo") para poder formar uma opinião exacta sobre o assunto (leia-se "ler os blogs com frequência).

Mas o que é de salientar nisto tudo dos blogs sobre política é que parece que a classe (política) e algumas pessoas que têm uma certa influência estão de olho nos blogs, nos twitters, nos facebooks e afins. E eu não conheço metade deles. Isto da internet é muito interessante, mas neste aspecto às vezes mais parece uma conduta subterrânea onde se discutem e dizem umas coisas, que saltam para o mundo lá fora, e por vezes não se sabe de onde e com que real impacto nas posturas, nas reacções, nas decisões. É tanta a coisa que se diz, que duvido que haja quem tenha tempo para ler aquilo tudo. Seja como for, se houver, isso é capaz de explicar porque é que temos cada vez mais incompetência neste país.

Isto dos blogs é muito interessante, dá-nos liberdade de expressão, temos a possibilidade de ter o nosso próprio orgão de comunicação social, às horas que bem nos apetecer, sem grandes censuras. Mas há um perigo e um preço, que é o resultado da diferença entre estarmos num café e o bufo da mesa ao lado dizer que nós dissémos, e nada conseguir provar, porque o "diz que disse" nunca foi prova 100% eficaz em tribunal, e o texto plasmado, guardado, citado, linkado, e por aí... e o interesse disto muitas vezes nem serve para fazer prova em tribunal, antes serve propósitos fora dele, e com muito maior eficácia, e sobretudo, relevância.

Claro que tudo isto não é novidade para quem me possa estar a ler. Seja como for, decidi escrever algo sobre o tópico.

1 comentário:

Guida Palhota disse...

Os blogues (sobre política ou outros) parece-me terem a principal finalidade de os seus autores "descarregarem" - mágoas, rancores, amores, ideias exacerbadas, opiniões entaladas...
E também servem para se conseguir alguma discussão com quem não temos ao pé (porque cada vez há menos gente ao pé...), mas essa discussão só poucos a aguentam e se for pelo tempo que referes já não é nada mau! Temos de ser optimistas, não é? Para quê lamentar as evidências? Para quê lamentar seja o que for?
Por mim, blogarei enquanto encontrar um receptor entusiasmado com isso, nem que seja para me dizer que estou redondamente enganada (uma sorte quando acontece!); quando isso acabar, vou pregar para outra freguesia.
Quanto à malta da política, não sei, mas tudo leva a crer que a merda (sem asteriscos!) seja a mesma.

Beijos, ó resistente