26 de julho de 2009

Notas do meu dossiê - parte 2

Último poema escrito em inglês; adolescência tardia; tinha eu 19 anos e muita confusão acumulada na cabeça. As pessoas com quem me cruzo são-me quase todas muito estranhas e não consigo lidar com elas de forma normal. Ainda assim acho que vou tendo a lucidez de conseguir ir descrevendo o que me rodeia. Já sou porém parco nas palavras; quase não escrevo, estou imerso na solidão, na angústia, na incerteza. O pouco que escrevo é talvez mais claro, mais directo, mais crú, sobretudo menos confuso para analisar.

Encontro uma rapariga que me suscita um sentimento estranhíssimo, paralelo à sua própria existência e àquilo de que me lembro que ela própria escrevia. Ofereci-lhe uma rosa vermelha no dia do seu aniversário. E nada mais.

What if you die ?
Dream-disaster premonition
I'll not tolerate having you.

Dream-clouds, boundless infinitude
Daydream desire,
mess
Inflicted on oneself lust

My sordid love for you



P.S. - Fico sempre a achar que a palavra sordid transmite uma ideia mais badalhoca do que aquilo que é a minha intenção (e o duplo significado de lust também não ajuda) . Se quisesse podia agora ter embelezado a coisa e substituído sordid por strange e o poema ficaria com um ar mais normal, mais suave. Mas é isso tudo o que ele não é. A carga significante da última linha atira-o para o nível do desconforto. Mais do que eu queria, é certo, mas prefiro dar esta explicação a alterá-lo. Sordid aqui tem o sentido de desconfortável; de sujo no sentido de ser desonesto, por não ter na realidade nada que ver com amor, apesar de eu idealizar que sim; é antes uma carência afectiva projectada em alguém que naquele momento eu identifiquei como estando tão estranha como eu.

2 comentários:

Lady Godiva disse...

Sabes, Meireles, tenho gostado dos teus poemas, mas nem consigo dizer nada porque tu resolves "desmontar" partes deles. Muito sinceramente, preferia ter tempo para imaginar o que sentiste e só mais tarde, e se te fosse perguntado, ter acesso às tuas explicações.
Desculpa a sinceridade.

beijo

Aníbal Meireles disse...

Tens razão, mas sabes, sinto a necessidade de fazer um "director's comment" para que as pessoas percebam o contexto.

E também porque sinto que pode dar mais azo a comentários. Quando colocamos algo mais de nós para além do poema, que muitos poderão ler como distanciado de quem escreve. É o que eu sinto quando leio poemas de outros. Fico a contemplar, sem saber o que dizer.

O meu pequeno texto serve para aproximar as duas realidades, inclusive a temporal, passados estes anos todos. Uma espécie de revisita interpretada, comentada.

Uma vezes revelo mais, outras menos. Por exemplo no último (parte 3) só revelei o contexto da situação, já não revelei personagens, enredo por detrás, significados ocultos (para os outros), etc.


Não sei se foi por isso que ninguém até chegares tu comentou este, ou pelo simples facto de este poema ser "desvinte", logo não se enquadrando na boniteza que alguns esperarão. É óbvio que não vou revelar aqui tudo o que escrevi, até porque alguns escritos têm várias páginas e até eu os acho uma seca, repetitivos na temática e confusos, mas julgo que revelar aqui um lado mais "lunar", como diria o Rui Veloso faz parte. Vejo é que ninguém, tirando a tua honrosa excepção correspondeu. Será por eu ter esmiuçado ? Ou será por ser um lado lunar?

Agradeço-te a sinceridade, mas podes sempre fazer a tua própria análise, podes desmontar e chegar a uma conclusão diferente, aproximada, complementar, etc. Eu até posso nem ter desmontado da melhor maneira. Podes sempre tentar ir por aí. Achas que desmontei bem ? Uma coisa é o que eu escrevo há uma data de anos atrás, outra a que eu interpreto hoje, com as memórias que tenho. Tu podes interpretar o poema e comparar com o que eu interpretei, também revela como vejo o meu passado.

Beijo