14 de fevereiro de 2010

Dias para celebrar: todos

Esta tradição comercial de celebrar datas deveria ser filtrada e algumas deviam deixar de existir. Aliás, em bom rigor, todas as datas que se celebram são marcos simbólicos, nada impedindo que se celebre determinado evento em qualquer dia do ano, mas reconheço que algumas fazem sentido por razões de ordem logística. Proponho que permaneçam as seguintes:

- as ocasiões solenes em que se relembram as vítmas de uma guerra, as revoluções, etc,  porque há que combinar uma data oficial em que se possam juntar os familiares e as figuras de Estado;

- o carnaval, porque é necessário organizar todo o cortejo e é preciso planificar, e por uma questão de clima - daí ser uma estupidez querermos celebrar em Portugal o carnaval do Brasil em vez de homenagearmos o de Veneza, mas enfim..., de resto, pode-se ser folião o ano inteiro, não dá é para fechar avenidas todos os dias.

- a celebrar na própria data quando acabamos um curso, ou em que obtemos a famigerada carta de condução, entre outras datas de relevo.

Aliás, se formos esmiuçar, porque é que não celebramos o décimo aniversário da obtenção da carta de condução ? Porque não é assim tão importante quanto isso, pois não ? Mas podemos sempre lembrar esse momento. Mas se fosse importante, como o são outras datas, porque é que só as celebramos em determinado dia ? É porque somos desleixados e precisamos de um dia fixo para nos lembramos de nesse dia não sermos hipócritas e darmos, muitas vezes só em aparência, a importância devida a determinado evento ?  Ou é por a data só ter um nível de importância para a celebrarmos apenas um dia por ano ?

Agora celebrar o amor ? Se o amor existe entre duas pessoas é para celebrar todos os dias; celebrar o dia dos namorados é a coisa mais rotineira que se deve evitar, por mais espectacular que seja a criatividade dos namorados. Um dia em que está programado ser-se espectacular e inesperado sempre é melhor do que um dia em que se é somente moderadamente inventivo, mas não deixa de ser um dia "marcado para" e isso retira logo metade da espontaneidade.

O amor não é uma obrigação, não se compadece com dias marcados. Amem-se nos dias em que há amor no ar, discutam quando for caso disso, façam o que têm a fazer, de acordo com o que sentirem, quando o sentirem.


Outras idiotices:

- celebrar o aniversário. Aquele dia em que as pessoas que quase não falam connosco (ou não falam de todo) no resto do ano, têm uma data apontada na agenda para nos telefonar, nos mandar uma sms, um "parabéns" no Facebook, ou por e-mail. O dia em que celebramos o facto de termos completado mais um ano; um marco como outro qualquer, igual ao facto de todos os dias completarmos mais um dia em que estamos vivos, e que, se aproveitarmos a vida, celebraremos todos os dias em que nos sentirmos felizes (esperemos que a maioria dos dias), da forma que conseguirmos, dependendo essencialmente do facto de fazermos por isso; celebrar é antes de mais um estado de espírito. Ao contrário de datas de Estado, o nosso dia de anos só por acaso é feriado, e os nossos familares poderão não ter disponibilidade para vir ter connosco nesse dia, portanto não se justifica sequer esse dia.

Quem nos quer bem, quem gosta de nós, celebra connosco o facto de estarmos vivos todos os dias; as prendas são outra idiotice. Ofereçam-se prendas quando quiserem, pensem nos vossos amigos, maridos, mulheres, filhos, irmãos, etc a propósito de um livro que virem numa livraria, de um disco que ouvirem e se tiverem disponibilidade financeira, porque não comprar e oferecer nesse dia, ou assim que puderem ? Para quê esperar por uma data para "ligarmos o interruptor" ? O interruptor não devia estar sempre ligado ? Não digo para andarem a oferecer presentes a toda a gente quando se lembrarem lol, não é ir à bancarrota, é mais no sentido da espontaneidade, do momento não ser fixo. E nem tem de ser uma prenda no sentido de ser um objecto comprado; pode ser uma carta, um postal escrito com uma mensagem, um telefonema, um e-mail, um cafuné, um sorriso. Não criem expectativas com coisas materiais em datas fixas. São logo duas coisas erradas, e infelizmente enraizadas na cultura.

1 comentário:

Guida Palhota disse...

De acordo, Meireles. Aliás, já não é a primeira vez que escreves o meu post...

Mas não te esqueças: Namorar faz bem à pele! ;-)