13 de fevereiro de 2010

Por onde é que se começa ?

Por onde é que se começa o quê ?, perguntam vocês.

- A construir um país com regras que funcionem, com um povo bem formado, sem invejas, tricas e mexericos, teorias da conspiração, arrogância, prepotência, ambição desmedida, irreponsabilidade e incompetência. Não me considero um idealista, nem um pessismista, tudo o que eu disse acima é sempre cum grano salis; gostava de uma sociedade melhor, não perfeita que isso não existe, mas será que é pedir muito ? É. Porque não se pede, faz-se, constrói-se, ao longo de anos, décadas.

O dia de hoje e a última semana foi exemplar para analisar o estado a que chegou o país. Alguns exemplos:

- Alberto João Jardim diz que noutro país como Inglaterra o P.M. já teria sido substituído e que este país mais parece a Sicília, esquecendo-se do que se passa na "sua" ilha, sob sua governação. Quem critica e não dá o exemplo, não deixa de ter razão no que diz, mas fica mal na fotografia por comparação;

- Henrique Granadeiro, presidente não executivo da PT, diz à revista Visão que se sente "encornado", se algo foi feito nas suas costas, um termo que não abona a favor da seriedade que se pretende de quem exerceu e exerce um cargo de relevo na PT, além da seriedade do assunto, que o visa a ele também; não bastava a Manuel Pinho fazer, Granadeiro tinha de o dizer;

- Paulo Rangel, candidato supresa à liderança do PSD, tanto que Manuela Ferreira Leite só o soube no dia em que o próprio o anunciou, ainda por cima por SMS, tinha dito perante as câmaras em 29 de Outubro passado que declarava peremptoriamente que não se candidataria à presidência do PSD: ""Eu digo aqui, peremptoriamente, que não estou nessa corrida [para a Presidência do PSD]" e acrescentou que "não faria sentido, neste momento, que eu me candidatasse à liderança deixando o Parlamento Europeu. Eu acho que os eleitores não compreenderiam isso, seria um mau sinal dado à democracia.".

Paulo Rangel tem um discurso persuasivo, acutilante, agressivo, mas depois esquece-se se chegou a assinar o cartão de militante do CDS nos idos de 1993-97, quando já tinha, pelo menos, 25 anos. Não sei se o acto de uma pessoa se tornar militante de um partido político é um acto tão banal como lembrarmo-nos da cor do ticket da lavandaria ou como calçar umas meias, mas suspeito que para o comum dos militantes seja uma acto de que se recordem, pelo simbolismo das ideias fundamentais em que acreditam e com que gostariam de ver o país governado, além do que porque com o cartão de militante vêm direitos e deveres, algo que uma pessoa licenciada em direito, com obra publicada já em 1994, devia dar alguma importância; já para não falar dos inconvenientes da memória selectiva...

- Ana Gomes, do PS, dispara em todas as direcções no blog Causa Nossa, alterando posteriormente à sua publicação, segundo o jornal Público, este post, que continha originalmente insultos como apelidar Rui Pedro Soares (que interpôs a providência cautelar contra o sol) de "atrasado mental". Lá porque o senhor exerceu o seu direito e ainda por cima sem ainda se saber bem qual era o conteúdo do pedido feito na providência cautelar,  isso não lhe dá o direito (à Ana Gomes) de o insultar em público, como o fez. Pessoas que agem assim não honram o lugar de destaque que têm, por muito humano que o comportamento possa ser, há formas e formas de criticar; o direito à indignação é pertença de todos, mas há que saber exercê-lo convenientemente, e tendo em conta os cargos de relevo que se exercem. Como é o caso de Ana Gomes.

- José Sócrates continua refugiado nas verdades formais, sem esclarecer cabalmente o povo. Dizer uma frase de um modo que não o compromete e lhe deixará a consciência mais tranquila, é estar a mentir a si próprio e a ocultar factos aos portugueses. Será que por uma vez o PM pode afrontar as acusações que lhe são feitas com uma resposta cabal ? Ou será que quer perpetuar a desconfiança, que, bem ou mal, uma data de episódios mal explicados, jamais vistos num qualquer outro PM em Portugal ainda por cima ao mesmo tempo, ajudaram a construir ? Perpetuar, arrastar um clima de surdez e repostas selectivas é tão perverso como o ruído mediático que se faz à volta deste circo. Para o "gestor" do país, este comportamento é irresponsável, pois prejudica cá dentro e lá fora.

Em Portugal parece que ou é tudo com paninhos quentes e ninguém faz nada, ou é tudo à gritaria, insultos, autêntico circo mediático e... ninguém faz nada.

O ruído em que vivemos é tal que há quem já não consiga ler a direito, em parte porque já se deixou enredar pela voz simplista das manchetes e tirou as suas conclusões ("país de ladrões!"), em parte porque já não há paciência nem tempo para tamanho chorrilho de sugestões e insinuações sempre incompletas e inconclusivas, que invariavelmente nos deixam nas suposições. 

Tudo tem uma leitura política, até se quer que as decisões judiciais a tenham, e Portugal parece mais um processo de intenções relativista, em que nada acontece, apesar de tudo o que é mais escandaloso parece acontecer, do que propriamente um país. Ninguém sai ileso disto e os políticos não podem ficar por verdades formais, e o povo (NÓS) deve exigir que seja dado aos tribunais todo o reforço que precisar para dar prioridade a processos como estes. 

Porque parecendo que não, no meio político ninguém leva a sério a justiça, e muitos responsáveis fizeram, por incompetência ou propositadamente (nunca se saberá) por que isso se fosse evidenciando cada vez mais aos olhos da população, que agora partilha do mesmo sentimento. Já não há respeito, porque o respeito merece-se, e não foram dadas condições à justiça nas últimas décadas para que ela possa merecer esse respeito. E sem isso cai um dos pilares da democracia.

Será que nós somos geneticamente um povo de baixa qualidade ?

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