4 de setembro de 2010

Um mundo assustador que acredita no Pai Natal

O mundo tem destas coisas.. de vez em quando somos confrontados com a sua faceta mais assustadora.

Tenho para mim nas décadas que já vivi que todos mentem. Uns mais, outros menos, uns para se protegerem dos outros, outros para prejudicar os outros. Mentiras pequenas e relativamente inócuas ou mentiras mais graves.

E o que acaba por acontecer quando se conta uma mentira é muito simples: a verdade do que aconteceu ou do que é pode nunca ou só muito tarde vir ao de cima.

Temos de estar atentos a todos, miúdos e graúdos. Mas é certo que nem todos são iguais, e no meio de tudo há que dizer que os graúdos têm a responsabilidade moral de formar a geração que lhe sucede de forma a que eles possam pensar pela sua própria cabeça e serem pessoas mentalmente saudáveis.

Mais do que deixar como legado uma herança, que acaba muitas vezes por despertar os piores instintos nas pessoas, o melhor que se pode dar aos filhos é educação. E que eles com a educação recebida construam o seu próprio património e que sejam felizes.

Quando constato que são os próprios pais que embarcam numa sociedade materialista e irracional, e que mentem deliberadamente aos filhos, que acreditam!,  numa figura bonacheirona que nunca, em circunstância alguma, cabe pela chaminé de casa nenhuma (além de ser um disparate perigoso), então estamos conversados acerca da inteligência humana.

O problema da fantasia aqui é que apenas o é para metade dos envolvidos. Os pais sabem que o Pai Natal não existe, mas conjuram um plano para que os filhos acreditem na personagem durante os primeiros anos. E conseguem fazê-lo em muitos casos.

Qual é o problema de os pais dizerem ao filhos que aquelas prendas são compradas com o dinheiro que os pais ganharam a trabalhar ? Os filhos vão gostar menos das prendas, vão divertir-se menos por causa disso ? Não é até muito melhor que os filhos comecem logo a estabelecer a correspondência entre o que recebem e a origem das prendas, para melhor perceberem que aquilo custa a ganhar e não cai do céu/da chaminé em segredo pela calada da noite ?

Tenham juízo! Passados uns anos os filhos crescem e começam a perceber que afinal é tudo mentira - e assim se começa no caminho da mentira - porque até se pode mentir se for por uma coisa bonita como o Pai Natal, não é ? Em vez de explicar como as coisas funcionam e que a verdade também pode ser uma coisa muito bonita.

É a mesma coisa que dizer que podemos deixar entrar as pulgas em casa se elas vierem perfumadas. O facto de elas morderem na mesma passa para segundo plano.

Vão-me dizer que isto não é assim tão grave. É um exemplo, meus caros. De muitos. E de como as crianças acreditam em muitos disparates que se lhe contam, porque têm parca experiência e são dependentes. E os adultos também acreditam noutros disparates, mais elaborados, normalmente daqueles que ficam uns pontos acima do QI médio da população semi-analfabeta deste país que se limita a insultar no café real ou virtual sem saber nada do que se passa e - pior, sem tentar minimamente, proactivamente, saber.

Quando eu vou ao cinema eu sei que aquilo é ficção. Toda a gente sabe que ali estão actores, e uma vasta equipa que realizou e produziu o filme. E quando vertemos uma lágrima numa cena mais emotiva ou ficamos agitados num momento de grande acção, nesse momento nós estamos como que dentro do acontecimento - e nesse momento nós quase que acreditamos que aquilo existe mesmo. Esse é o bom cinema, que nos transporta de forma credível lá para dentro.

Mas depois saímos da sala e ninguém quis enganar ninguém. Aquilo é ficção, entretenimento do bom, que nos fez pensar, nos pôs alegres ou emocionados e até nos pode fazer sonhar e inspirar para fazer algo de grande. Essa é a mensagem, e o filme vale por isso. De que vale o Pai Natal ?

2 comentários:

Guida Palhota disse...

Meireles, homem, eu sei que o Natal é quando um Homem quiser, mas agora podias pensar na vindima e pronto...
(isto sou eu a desconversar, sorry, é que hoje estou em dia não!)

beijocas

P.S. Espero cá voltar - para compor...

Aníbal Meireles disse...

Podes voltar quando quiseres!

Beijocas!