5 de maio de 2010

Portugal, Estado laico ?

Estado laico, com rigor nas contas públicas em tempos de acentuada crise, com o PEC a ser escrutinado e antecipado na sua aplicação, num país com um crónico problema de competitividade e falta de produtividade ?

"Segundo António Costa, não há "uma contabilidade total" acerca dos custos da visita para a autarquia (...)" - Diário Económico, link aqui

De acordo com a revista Visão desta semana, no artigo intitulado "Terá o Papa impacto na economia ?" (pág 46-48), também o Ministério dos Negócios Estrangeiros afirma que ""não há nenhuma estimativa dos custos da operação", alegando que esta é repartida por diferentes organismos "A avaliação só poderá ser feita a posteriori"". Igual resposta tem o Ministério da Administração Interna: "Questionado sobre os custos da operação de segurança, o Ministério da Administração Interna disse não dispor de números, embroa se saiba que forças de segurança especiais e serviços secretos participarão na operação de protecção de Bento XVI".

O próprio Cardeal Patriarca noutro dia defendeu (ler aqui no Público) que era preciso diminuir o número de cristãos faz-de-conta, numa atitude de proselitismo ao contrário, mas que só lhe fica bem.

No entanto, todas as escolas públicas vão fechar no dia 13, assim como as do concelho de Lisboa na tarde de dia 11 e as do concelho do Porto na manhã de dia 14, e os pais que tenham de ficar com os filhos e não os possam levar para o local de trabalho, têm também de tirar férias ou perder um dia e meio de salário, seja qual for a sua confissão religiosa, se a tiverem. - Notícia no Público, aqui.

Mas não se resume às escolas: de acordo com o despacho será concedida tolerância de ponto aos trabalhadores que exercem funções públicas na administração central e nos institutos públicos ( - hospitais - notícias aqui e aqui, também estão abrangidos) tendo em conta  “o interesse de grande número de portugueses em poderem estar presentes nas celebrações."

Portugal neste momento não tem Governo, nem governo, apenas ministros que se contradizem, um Primeiro Ministro que acumula trapalhadas no currículo sem que nada aconteça para se esclarecer a situação jurídica e política, jogos políticos à esquerda com as obras públicas e medidas populares como a da tolerância de ponto como a acima exposta, sem que haja a mínima noção, um cálculo que seja, dos custos para a sociedade em geral.

Os verdadeiros cristãos e católicos não se importariam nada de fazer esse sacrifício (que para muitos até não o seria de todo) de tirar um dia de férias, digo eu, afinal não é todos os dias que o Papa vem a Portugal.

O problema é que essa contabilidade não é feita. Presume-se inilidívelmente que a esmagadora maioria dos portugueses é católica praticante e que segue os ensinamentos e directrizes da Igreja.

Mas mesmo que fosse o caso, será que que o Estado deve ter este papel, especialmente em tempos de crise ?

Faz-me lembrar o motor da Europa, a Alemanha, em que para não se entregar uma parte dos impostos à Igreja é necessário ir a uma conservatória dizer expressamente, no papel, que não se professa aquela religião. Uma atitude deplorável e discriminatória, mas que não surpreende, num país em que é permitido que um partido se chame CDU - Christlich Demokratische Union (Christian Democratic Union), o que em Portugal, por exemplo é proibido (artigo 51.º, n.º 3 da Constituição), por muito que os miltantes do CDS gostassem que o "C" correspondesse à nomenclatura que usam de "Democratas-Cristãos".


- post actualizado no dia 05.05.2010, às 17:49

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