22 de outubro de 2009

O que significa "respeitar" ?

Mais concretamente, o que significa "respeitar" no âmbito das declarações do presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, Abdool Vakil, a propósito das declarações de José Saramago ?


Proponho que se analise a questão. Eis os significados segundo a infopedia.pt:

respeitar - verbo transitivo

1. testemunhar respeito a; tratar com civilidade; honrar; reverenciar; venerar

2.
ter medo de; recear

3. ter em consideração

4. cumprir regras ou preceitos morais estabelecidos; observar

5. fazer justiça a; reconhecer

6. suportar; aceitar

7. não causar dano; poupar

8. estar na direcção de; apontar para


(omiti as relativas a verbo intransitivo e verbo pronominal, penso que não se aplicarão aqui)

14 comentários:

Guida Palhota disse...

Meireles:

Quererás tu
que nos detenhamos nós
nos resultados que a infopedia te apresentou?

Será que queres que 'respeitemos' uma espécie de "orientação" tua para os nossos eventuais comentários?

Olha, "tendo em consideração" aquilo que li aqui,
ali e além, mas, especialmente, manifestando a minha opinião relativamente ao conceito sobre cujo significado lançaste a discussão, passa-me pela cabeça a ideia de criar um outdoor onde se leia:

RESPEITAR É ACEITAR QUE O OUTRO É TÃO LIVRE COMO NÓS PARA REVELAR A SUA SENSIBILIDADE.

SEJA LIVRE COMO ELE!

Aníbal Meireles disse...

Guida: o elenco da infopedia é meramente indicativo e serve apenas de base de conversa; nenhum dicionário consegue nem deve ser taxativo ou exaustivo, pelo que era só mesmo para pegar por aqui e continuar por ali, acoli ou acolá, como fizeste e bem.

A tua definição é aliás, no meu entendimento, porventura a melhor de todas. Acrescentaria mais: respeitar é não perseguir outrém com base nas ideias que manifesta.

Isto de falar em conceitos é muito complicado, há sempre um buraquinho por onde sempre alguém se mete para dizer que sim ou que não, e reconheço que nem todas as ideias e sensibilidades devem ser aceites. Se uma pessoa sai à rua incitando que as pessoas andem aos tiros umas às outras, essa "sensibilidade" não só não deve ser respeitada como deve ser reprimida, visto que apela ao atentado físico às pessoas.

No fim do dia, acaba tudo por depender da forma como se coloca determinada questão. Discutir ideias não faz mal a ninguém, excepto quando essas ideias colocam em perigo a nossa existência, como é o caso primário e facilmente compreensível que eu dei como exemplo. Em tudo o resto é preciso ter muita flexibilidade porque quase nada é a preto e branco.

E é por isso que me parece limitador da liberdade o que está escrito no artigo 251.º n.º 1 e 252.º alínea a) do Código Penal.

Aqui os artigos:

http://pgdlisboa.pt/pgdl/leis/lei_mostra_articulado.php?artigo_id=109A0251&nid=109&tabela=leis&pagina=1&ficha=1&nversao=#artigo

Vítor disse...

A mim o que me parece limitador das liberdades individuais é o Código Penal todo.
Aliás, parodiando "alguém", acho que este livro 'é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana. Sem' ele, 'um livro que teve muita influência na nossa cultura e até na nossa maneira de ser, os seres humanos seriam provavelmente melhores'.

Rute disse...

O que significa "respeitar"?
Aqui está uma questão que me deu muito que pensar, porque me tenho apercebido, que este conceito varia muito de pessoa para pessoa. No meu entender e no meu sentir, respeitar significa principalmente saber ouvir e tentar compreender aqueles que pensam de maneira diferente de nós. Respeitar implica que tenhamos a noção que há muita gente que não entende a nossa linguagem, da mesma maneira que nós, muitas vezes, não entendemos a linguagem dos outros. Com estas, e outras dificuldades que por vezes se interpõem entre as pessoas, para que consigamos respeitar o outro,há que o usar o bom senso para não magoar gratuitamente. Não vale a pena chocar e magoar a não ser que isso seja feito conscientemente e que tenha como único objectivo melhorar alguma coisa, como por exemplo, um relacionamento.
Respeitar não é dizer que sim a tudo, mas saber discordar sem ofender e com civilidade. Ofender e magoar deliberadamente, é desrespeitar e desconsiderar o outro. Não precisamos de magoar ao expormos os nossos pontos de vista.

Para mim, respeitar os outros, é uma maneira de estar neste mundo e de viver esta vida que me ofereceram para desfrutar da melhor maneira possível. Sem esse respeito, não é possível a saudável convivência entre as pessoas e sem ela, a vida não flui e perde o sentido.

Meíreles, acho talvez não tenha dito o mais importante e se calhar não fui ao essencial da questão! De qualquer forma, deixei algumas das minhas ideias sobre o que é "respeitar". Muito mais coisas haveria a dizer, mas fica para uma outra vez.

1 beijinho

Lady Godiva disse...

Olá, Aníbal!

Ainda ontem à noite me deliciei com os "Gatos" "a analisarem os sufrágios".
Mas, agora que chego aqui e leio os comentários, assaltam-me algumas dúvidas:

1. Será que toda a gente entende aquilo que eles dizem?!...

2. Será que o que eles fazem é discordar sem ofender, sem magoar, sem chocar ninguém?!...

3. Será que a crítica cerrada, ostensiva a que eles se dedicam tem como nobre objectivo melhorar os relacionamentos entre as pessoas?!...

4. E será que essa crítica mordaz não é deliberada?!...

5. Será que os humoristas não deviam estar neste mundo, se por acaso eles desrespeitam e desconsideram o outro?!... Ou eles não fazem isso?!...

6. Será que os humoristas ofendem ou, por serem humoristas, gozam de um estatudo especial que lhes permite atingirem os outros da forma mais ridicularizadora possível, algo intolerável no comportamento de um "não humorista"?!...

7. Serão os inúmeros visados pelos humoristas gente que sente que, por ter sido ridicularizada, se tornou impossível a saudável convivência entre as pessoas e que a vida já não pode fluir e perdeu o sentido?!...

Será?

Eu andava convencidíssima do contrário, até porque vi alguns visados submeterem-se à "brincadeira", que eles sabem bem que consiste em manifestação livre de opiniões "corrosivas" a propósito de palavras e actos seus...

Olha, eu estou com os "Gatos", sei de muita gente que os considera geniais (mais o Ricardo, claro) e só tenho pena de não ter dotes humorísticos, para poder ser aceite, mesmo quando não fosse entendida!!!

É que os "Gatos" não prejudicam ninguém, não saem por aí aos tiros nem coisa que o valha... Portanto, onde é que está o desrespeito? Eles até "deixam" que os visados repliquem!...

E será que os "Gatos" e outros que tais não poderão até estar a contribuir para a consciencialização de certos erros e vícios que, se nunca forem apontados (seja de que maneira for), poderão agudizar-se cada vez mais?

Eu defendo a liberdade de expressão e o diálogo. Portanto e por exemplo, digam o que quiserem sobre mim (se for mesmo sobre mim e dirigido a mim!), que eu retorquirei, directamente e a propósito.

E, por tudo o que explanei, é óbvio que sinto que tanto o Saramago como Abdool Vakil têm direito a expressar as suas opiniões. Aquilo que declararam não passa pela minha ideia como desrespeito, embora eu me coloque claramente do lado de Saramago, pois parece-me que não há nada que retire validade à sua opinião, enquanto Abdool teve a infelicidade de dizer que respeita porque acredita...

Na perspectiva de Abdool, meus amigos, adivinhamos que ele não respeita tudo e todos; só respeita aquilo e quem passa no seu crivo!

Concordo contigo quando insinuas que se causarmos dano a alguém não estamos a respeitá-lo, mas opinar antagonicamente não é causar dano. Pelo contrário, pode até ser enriquecedor, se o outro lado estiver à altura de debater as divergências.

A vida parece-me ter tanto mais sentido quanto mais nos manifestarmos pessoas diferentes umas das outras, com ideias e ideais diferentes e opostos, dispostas a enriquecermos os nossos seres incompletos e imperfeitos. Sobretudo e essencialmente se, para os nossos pontos de vista tivermos argumentos consolidantes...

Aníbal Meireles disse...

Vítor, Rute e Lady: gostei muito de vos ler; começarei a responder a cada um amanhã, com o devido vagar (ie, sem pressa que me prejudique a resposta) que as vossas opiniões e o assunto me merecem.

Beijos e abraços!

Clarice disse...

Respeitar... passa pela nossa capacidade de PERCEBER e ENTENDER os outros... se opinamos precocemente, se dizemos antes desse entendimento, se deixamos escapar a primeira impressão...ou nos agarramos a ela como ponto de partida… está o caldo entornado, sujamos o outro... e falamos apenas, sem dizer grande coisa...devemos sempre ser exigentes e passar da primeira impressão, é que se não nos demarcamos dela, patinamos, ficamos a girar só à nossa volta, ficamos tontos portanto! E estonteamos!
E isto de perceber e entender os outros, demora... leva tempo... porque os outros não são bocados… os outros são caminho de agora, são o que já caminharam e são o que desejam caminhar… é muito lado para olhar…

Li a referência que a Guida fez aos “gatos” e sobre eles apeteceu-me acrescentar… o humor é das formas mais inteligentes de dizer BEM os outros… mas não é para todos, não é mesmo, é dom interior, raro e eficaz… fazer rir passa por saber rir… este é o olhar primeiro para saber respeitar PARECENDO que se desrespeita… e confirma-se que nem tudo o que parece, é! Leva tempo…


beijinho, Meireles

Clarice disse...

Correcção: foi a Lady que falou dos "Gatos"... sorry Guida!!:)

Lady Godiva disse...

Aníbal:
Voltei cá porque me parece que me esqueci do fundamental, que é dizer-te que admiro o Saramago pelo uso que faz da sua liberdade de expressão e, neste particular, até concordo inteiramente com aquilo que ele disse. E ainda que, quanto a Vakil, penso que mais valia ter estado caladinho, pois não reconheço validade nas suas afirmações. Contudo, tanto um como o outro disseram o que quiseram; não deixaram os seus créditos por mãos alheias; e não se agarraram a pruridos ou preconceitos limitadores da comunicação do seu pensamento, que só causou polémica porque as pessoas gostam de falar... E qual é o problema disso? Falemos, bolas! E directamente, de preferência! Sempre.

Aníbal Meireles disse...

Vítor: há de facto muitos criminosos que até têm a lata de dizer que gostam muito de ler o código penal, até o têm na mesa de cabeceira! Melhor manual de maus costumes não há, de facto.

Por cada crime tipificado, há um que não está lá que acaba por ser cometido por quem estudou a lei para a contornar. Mas, apesar de todas as imperfeições ainda acho que é melhor ter o dito manual de maus costumes e de lhes dar (aos criminosos) ideias, porque de algumas já não escapam, do que não saber com que linhas supostamente me entendo. Isto do bom senso é muito bonito, mas os maus não o têm.

Aliás, hoje em dia o problema está mais nas regras do jogo do que no tabuleiro em si. O Código de Processo Penal funciona como não devia...

Mas lá que é um manual de maus costumes, lá isso é, sem duvida, seríamos melhores se não precisássemos dele. Se, se, se...

Vítor disse...

"Respeitar" significa hoje (apud Infopédia) muito mais coisas do que quando inventaram a palavra. Os Romanos, seus criadores, reforçavam com ela apenas o acto de ver ("spectare"). Veja-se o que diz o latim:

respecto, -as, -are, -aui, -atum (re, specto), v.

I. Intransitivo
1. Olhar para trás com frequência; olhar para trás.
2. Estar na expectativa; esperar.

II. Transitivo
1. Olhar para.
2. Prestar atenção; preocupar-se com; ter os olhos em; ocupar-se de.

Claro que podemos interpretar (semântica e hermeneuticamente) estes significados e chegar àquele que aqui nos trouxe.
Por exemplo: será que o Vakil quis pedir ao Saramago que olhasse mais e melhor para trás, para aquilo que está escrito na "Bíblia", no "Corão" e em todos os livros sagrados, incluindo o «Manifesto do Partido Comunista», de Marx e Engels?
É só uma ideia, talvez a desenvolver quando não estiver atrasado para ir para a escola...

Guida Palhota disse...

Meireles e Vítor:

"A respeito" deste assunto polémico, que ganhou pernas e já se passeou por inúmeras significações, apetece-me dizer que a hipótese de andarmos aqui feitos parvos a "olhar para trás" até poderia dar vontade de rir tanto ao Saramago como ao Vakil, que, como são homens que dizem o que lhes apetece, poderão ter combinado esta estratégia de marketing e dividir depois os lucros da colossal venda do «Caim» (apeteceu-me abandalhar!...)!

Aliás, se calhar, temos aqui uma verdadeira probabilidade (!), pois custa-me a crer que alguém (como fez Vakil) se sujeite, sem daí advir qualquer retorno, ao ridículo de dizer que se sente ofendido sempre que alguém diz mal de Jesus Cristo. Este homem só podia mesmo estar combinado com o outro!...
Então eu agora também ia ficar ofendida sempre que me dissessem que o meu filho mal comportado se anda a comportar mal... Não será mais razoável eu averiguar os factos e, na certeza de que quem encontra defeitos ao meu filho tem razão, acautelar para que ele se torne menos "defeituoso"?!...
A quem fala mal de Jesus Cristo só é preciso pedir que baseie as suas afirmações em argumentos que as validem. Ficar ofendido?! Para quê? Melhora o mundo por ficarmos ofendidos, sem debatermos aquilo que nos ofendeu? Não creio.

E Vakil não se ofendeu. Ele quis foi agarrar uma oportunidade de projecção, de fazer incidir as atenções do mundo sobre si. Tal como Saramago.
E esta é a lei da vida, seja ela triste ou divertida!!!

Aníbal Meireles disse...

Rute: concordo contigo quando dizes que respeitar passa por saber ouvir e tentar compreender aqueles que pensam de maneira diferente de nós; já quanto a usar o bom senso, enfim, sim, se bom senso for descrito como também incluindo os conhecimentos à priori para sabermos que não temos o mesmo entendimento do mundo em geral, ou em determinada matéria do nosso interlocutor.

O problema que eu acho que existe é que nem o bom senso pode ajudar quando se trata de evitar magoar e/ou ofender o outro. O puro acto de discordar pode ofender, mesmo que o façamos como dizes, com civilidade. Há coisas que para uma pessoa são "sagradas" e que para outra não são. O mero acto de entrar por aí pode ofender, mesmo que para uma das pessoas não seja nada de mais. MAs entre isso e ficar calado para não ofender susceptibilidades, há quem prefira não viver com tabus e ficar com coisas entaladas por dizer. É mesmo um choque de civilizações e, numa escala mais pequena, de sensibilidades individuais.

Se eu tivesse de dizer que há um denominador mínimo comum, seria a civilidade, mas até esse tem flutuações bastante grandes na cultura pelo mundo fora.

E portanto, "ofender deliberadamente" acaba por ser uma contigência que por vezes pode passar como tal aos olhos do nosso interlocutor "Ah ele/ela disse aquilo só para me irritar", quando pode não ser nada disso; as questões de percepção e de vontade podem não se cruzar sequer.

Eu arrisco dizer que, por vezes, a sorte, aliada a uma questão de química e da palavra certa, é o que pode ajudar a acalmar ânimos. Por vezes toda a diplomcia, bom-senso e civilidade podem não chegar. São contigências.

Beijinho

Lady Godiva disse...

Aníbal:
Comentando o teu último lençol de palavras, eu agora podia, por exemplo (se quisesse ou não me aguentasse), ofender-me por teres feito uma promessa a três pessoas, em 25 de Outubro, e uma delas estar até hoje, 9 de Novembro, sem resposta. É que há coisas (como "respostas") que, para certas pessoas, são sagradas! lol E até podia fazer de advogada de defesa de outras entidades que também mereciam a tua atenção - quanto mais não fosse, pela atenção que te deram (ou será que nem todas estavam propriamente a falar para ti?!...).
Mas não. Porque não e porque a resposta que deste à Rute é cheia de razões que também são minhas e inclui a fundamental questão da "química" ou da falta dela no relacionamento entre as pessoas... Estando ela presente, é fácil e até apetecível dar todos os passos para resolver algo que nos afaste... Como eu estou a fazer agora, seu incumpridor de promessas!

Vemo-nos por aí...